terça-feira, 18 de novembro de 2008

Malabaristas

Números repetidos
impassíveis

diante do primeiro passo
na corda suspensa
acima do abismo

Perdidos,
aguardam


pedidos imóveis

Anônima,
a multidão

em desfoque
deseja

o salto

do alto

a sorte

no foco
a morte

terça-feira, 21 de outubro de 2008

amor impreciso

o vulto do descompasso
contido
no passo em falso

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O motim

vai e volta
em meio à confusão de ruas, rotas
a revolta revela tendões
e escorre dos olhos pintados pra rebelião

abre a porta
e esquece o que tem, não há mais volta
o ar que sopra dispersa ilusões
e seca os olhos, soldados da destruição

o diabo está entre os traidores
queimando as pontes
rodopiando sobre as cinzas
que fazem teu nariz coçar

respire e abandone as dores
que acorrentam
os que não pertencem à nenhum lugar
e confortavelmente assistem o motim

vai e volta
em meio às confissões das ruas mortas a derrota
se torna aflição
e esconde os olhos fardados na escuridão

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Mistura


adiante
em você
reflito
no fundo de seus olhos
em feixes cintilantes
repousam
verdades minhas
na safadeza
esvoaçante
de sua risadinha
provocante
passeio
como passante
atento
diante
do monumento favorito
adiante


quarta-feira, 2 de julho de 2008

Interior (música)

seu passageiro
outro impostor

e de sua cama desfeita
da suspeita faz um cobertor
à te proteger do frio

quando o rastro se apagou
no escuro de um precípio
viu um início tão revelador
eu assenti, e sorri

do interior vc só quer fugir
no interior vc só quer fugir

às 6 horas da manhã
da eterna noite calada
a lua some na estrada
e aponta a direção
que quando dorme sempre sai à seguir

na sincera inexatidão
de seu olhar de criança
vai buscar confiança
decretando a paixão
pra então, feliz, assistir a tudo explodir

do interior vc só quer fugir
no interior vc só quer fugir

deixe estar
nem pense em apagar o fogo
deixe acabar
e vem começar tudo de novo
daqui

sábado, 28 de junho de 2008

justiça I - sobre ingenuidade

cães viciados da lei

esquadrinham os limites da inocência

à procura de traços

mesmo que fracos

de proezas próprias

dos prisioneiros natos

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Deserto (música)

Uma porta atrás do espelho
um lugar, outro lugar...
o princípio de um veneno
na vontade de voltar

Quando me olha se demora
quando me vê sai à voar
e estacionado na cidade
sem passaporte à esperar

o seu coração desperto
o seu coração tão perto

Marcando passos de cabeça
contando fatos sobrenaturais
há alguém torcendo que eu me esqueça
dentro da casa, os meus ideais

Pego a avenida mais escura
só as paixões à iluminar
e por muito sorte eu te encontro
dentro do peito à carregar

o seu coração desperto
o seu coração tão perto

o seu coração desperto
o seu coração deserto

domingo, 11 de maio de 2008

Evidências

Aproximo-a do rosto
Investigo, de tão próximo, os pontos
Interrogo os olhos estáticos
Forço os meus


Prometo que tento entender

mas olhando você assim
na foto
como poderia imaginar?

Como pôde?

domingo, 30 de março de 2008

Poucos minutos antes

era eu o oponente,
atento a cada vacilo,
ao instante inerte,
implorando pelo sopro santo
da resposta tardia.

A que determinaria o futuro,
em um passado
remoto.

Mordo o interior da boca,
remonto a ontem
e miro o braço,
fechando como um cadeado
o corpo sedento de tato.

Faíscam os olhos,
lamparinas em meio à tempestade.

Nas margens do silêncio,
ao som da chuva
que inunda a rua
e imuniza a despedida,
teorizo.

Como chegamos aqui
e por que resolvemos
voluntariamente
nos perder,
é fácil dizer.

A razão de nos encontramos

sempre no adeus
é o que sempre me faz desejar
esse eterno retorno.

sexta-feira, 28 de março de 2008

That don´t make it junk (Leonard Cohen)

I fought against the bottle,
But I had to do it drunk –
Took my diamond to the pawnshop –
But that don’t make it junk.

I know that I’m forgiven,
But I don’t know how I know
I don’t trust my inner feelings –
Inner feelings come and go.

How come you called me here tonight?
How come you bother
With my heart at all?
You raise me up in grace,
Then you put me in a place,
Where I must fall.

Too late to fix another drink –
The lights are going out –
I’ll listen to the darkness sing –
I know what that’s about.

I tried to love you my way,
But I couldn’t make it hold.
So I closed the Book of Longing
And I do what I am told.

How come you called me here tonight?
How come you bother with my heart at all?
You raise me up in grace,
Then you put me in a place,
Where I must fall.

I fought against the bottle,
But I had to do it drunk –
Took my diamond to the pawnshop –But that don’t make it junk.

Jewel Box (Jeff Buckley)

I know youre a woman
By the way you burn below
Ill tell you secrets so good
Youll never tell a soul

Come closer, that bonfire holds his life like stones
My years, my life unknown

Diamonds from the pavement
Where a broken glass had been
Just like these troubles
that Im leaving to the wind

Like sapphires in boxcars speeding towards the end
Like thieves, my bad luck grows

Jewel box of sadness
Bring to catch your tear
Crystalize illusion shine forgot Im here
Jewel box of sadness
Bring to catch your tear
Oh, you left some stars in my belly

Star crossed childs love
on the bands of wedding gold
Silver studs of promise
hide in the red crushed velvet folds

Inaction, intention, like emeralds I stole
My speech of custom gold
I think I ought to know

Véspera (Lobão)

Como tudo que dói
A tarde vai queimando o lixo e a beleza no seu véu
De fumaça e cinza
Espalhando o calor e o silêncio no abandono do dia
O ar quente treme no espelho do asfalto
Refletindo pedras e restos de cães atropelados
O céu de urubus em espiral
Estampa, desliza e prolonga a sensação do vazio

Aí eu me pergunto: hoje é véspera de que?
Aí eu me pergunto: hoje é véspera de que?

Talvez hoje seja, simplesmente, véspera de nada

Pensamentos viram fumaça na tarde
Condensando o alento de uma esperança feita de nuvens
Sonhos com uma trégua de orvalhos noturnos
Desaparecem no bafo quente do agouro de mais e mais e mais desertos
E a alma se entrega chorando
Numa última oração à primeira estrela que resta
Como se pudesse reinventar horizontes
Para manhãs abandonadas

Aí eu me pergunto: hoje é véspera de que?
Aí eu me pergunto: hoje é véspera de que?

Talvez hoje seja, simplesmente, véspera de nada.

terça-feira, 4 de março de 2008

No fundo da Noite

Bem no fundo da noite,
confundo conceitos,
me perco em palavras
e à tua mão me sujeito.

Bem no fundo da noite,
Entre veias expostas
e linhas mal acabadas,
faço apostas sem medo.

Bem no fundo escuro da noite
Um telefone emudece
e a fé enfraquece
ao notar-se infiel.

Bem no fundo escuro da noite
emoldurado em vermelho,
o riso de um louco
sibila no espelho.

Talvez a espera seja só falsa impressão
e que nessa noite escura

encontre uma manta a acalentar
minha própria destruição.

O inferno são os outros. (J. P. Sartre.)

"Enquanto que eu. Tudo tão duvidoso. Atrevo. Pergunto o porquê da morte, do tempo, do amor. São os três quase-elementos existentes. Absolutamente impossível dizer concretamente o que são. Meu corpo não me entende e no entanto vive bem comigo. São duas e vinte. O que isso representará na minha existência? Lembrarei sempre desse não-acontecimento? Dessa vontade? Ela disse que não se apaixonaria pois tinha muito medo. Ouvira falar de dependência. Sim, nos tornamos dependentes depois de experimentarmos uma sensação e gostar. A partir de então tudo transcorre segundo seu quase-possível-desejo. Ocorre o inverso: você passa a não mais querer e cada vez mais quer. Entende? Não importa, é assim. Não podia se apaixonar. Sabia tão pouco de suas possibilidades e de seus limites. Não existe limite. O que existe são fatos que limitam. Estava ainda no ato de perguntar, não de completar. A paixão. Desejo de paixão impossível, a paixão. Impossível a paixão. Difícil o aproximar. Transtornante o de novo. E o coração a. Há um tempo do dentro das pessoas que a vontade de se dar é tanta que até se pensa em solidão. Aí é que está o sentido exato de se saber o porquë daquele momento. E continuo ruminando e permaneço. A complexidade é que cria a solidão. Acho que a idéia de começar funde-se em não querer e se tranforma em. O fato é que. A noite está. Os olhos. O corpo espera. A espera devora os órgãos e os faz falhos. E os torna opacos. A ansiedade lubrifica essas falhas e faz com que pouco rapidamente nos deterioremos. Como ácido entre neve de mãos. Os pensadores não me dizem mais. Sabe o que me satisfaz plenamente? Nada. Isso mesmo. Nem eu aqui agora roendo as unhas, sinal de intranquilidade comigo. Queri vencer o muro, perpetuar o instante para poder refazer se for preciso. O relógio acima de meus olhos está tombado feito cascata no corte da montanha e no entanto ainda dita as metas. As permanências. Aquele instante é cinza. Não há porquês. Há sim perguntas, apenas. A resposta é uma pergunta, então não existe resposta. Então o que acabei de escrever não deve ser levado em conta, pois não se diz nada concreto daquilo que existe: é fluente. Nota-se a presença. Enquanto que eu. Tudo tão duvidoso. Tento imaginar de onde brota a água que a montanha esconde em si. Não há o que entender às vezes. Solução: esquecer. Hoje o mundo sentiu algo até então desconhecido. Sentiu a ansiedade dos felizes. Aquela ansiedade triste dos que esperam que a ânsia seja satisfeita. O cruel desejo de que a onda desfaça o rochedo que imponente impede a água seguir seu rumo. O barulho é o avesso da alma. Silêncio. O sono me invade. Não existem respostas."

Opressão


Quando o mundo sorri amarelo
e a fé se nota infiel.
Quando o tempo se faz inimigo,
e você, sozinho comigo, silencia.
Com as mãos frias do susto,
espia com o canto dos olhos
o estranho que persegue, à espreita.

Sombra errante,
indissociável da escuridão,
indissociável do instante,
sacramenta sua permanência

frágil.

Fraca existência.

sábado, 1 de março de 2008

Corações de aluguel (música)

Amores colecionáveis
Parece que o tempo parou por lá.

Será que existe algo inacabado?
Alguma peça fora do lugar...

E eu me sentindo tão ultrapassado,
pintando a saudade no papel.
Torço pra que brilhe de novo o sol,
na suíte de seu coração de aluguel.

Será que os planos (hoje estilhaços)
endureceram o seu olhar?

É certo que dói ter acreditado tanto,
pra sua carne ter de aceitar

a lembrança de um passado,
encerrado dentro de um colar.
Será que o ouro vai te ofuscar
na suíte que em meu coração pus pra alugar?

E eu também
já jurei o amor assim.

E eu também
já perdi parte de mim.

Será?

Desse caminho torto e apressado,
nunca soube bem o que esperar.

Por isso tanto coisa eu deixei de lado.
Será que é hora de voltar buscar?

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Cais (Milton Nascimento)

Para quem quer se soltar invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de me lançar

Eu queria ser feliz

Invento o mar
Invento em mim o sonhador

Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Vida de marionete (música)

A sua vida sempre à frente
de forma simples e eficiente,
seu dia-a-dia flutua leve como o ar.

O futuro sempre em suas mãos
tão ansiosas por inovação,
até desembalar a mesma velha promessa de amar.

Então você se lembra da indiferença do quase afogado,
que tão cansado de remar pra todo lado
estanca e espera enquanto considera,
que talvez tenha errado em escolhar viver tão confinado,
atolado em obrigações vazias,
tantas pedras no sapato,
tanta política pra quê?

Mas será que dava mesmo pra escolher?

Melhor então é não pensar
e seguir a caravana, continuar
com o nariz no infinito e os pés bem fincados no chão.

Pois seu potencial é nossa inspiração,
dentro de um anúncio na televisão você repete compulsoriamente,
- Dessa vez tudo será diferente!!!

Quando então você se lembra da recompensa que, quando criança,
ao apontar para as estrelas com a lanterna sentia,
e mentia ao dizer que tinha medo do escuro,
você tava tão seguro, só não queria que ninguém lhe obrigasse,
que lhe dissessem o que fazer.
Tudo sempre foi tão claro pra você...

Então vem!
Nos resta celebrar
bailando qual marionetes.
Não há lugar melhor
pra se estar bem,
do que este lugar
entre passistas e confete.
Nas fantasias os segredos
que esse mundo não há de aceitar.

Vem!
Nos resta celebrar
bailando qual marionetes.
Não há lugar melhor
pra se estar bem,
do que este lugar
entre mentiras e vedetes.
Nas fantasias os desejos
que esse mundo não satisfaz.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Espera (música)

toda a vida que tive aqui
fez da espera um arsenal.
e as tolas preces que repeti,
sempre me convenceram que o final
seria doce
como a brisa do mar,
e o luar estendido no chão
iluminaria todo o mal
que há em mim

mas agora ouço a porta abrir
enquanto a manhã desperta no quintal
incerto se sonho vejo refletir
- tudo parecendo tão real -
os meus desejos moços
na sombra de um olhar
e as linhas marcadas da mão,
começando a apagar

Será você enfim?

Estava tão cansado de girar em falso
Estava tão cansado de medir os passos
Nesse tempo certo, nesse caminho limpo,
onde tudo é tão correto
onde nada faz sentido para mim

NEGATIVO

Atuo na dúvida,
existo no cinza,
atravesso paredes
como barco que singra
o mar em tempestade
à procura de um porto
palavras emaranhadas
à procura de um ponto

Sentenças inacabadas,
frases não ditas,
Pausas
sem tom, tempo ou ritmo

Só pulso

Mau hábito (música)


um alento ou uma dose que conforta e traz calor?
um pensamento ou só um nome que suporta a sua dor
de favores baixos, falsos tratos e promessas de recomeçar
tão viciantes quanto o instante em que deixou-se apunhalar

pela paixão

mas um momento, estou esgotado de em sua peça ter de figurar!
as falas prontas, os falsos cortes tão adequados para dissimular
será que existe erro, ou só é o preço de se querer amar demais?
Invento a sorte e aguardo o bote, para envenenado amaldiçoar

outra paixão

O que eu não entendo
é que quanto mais eu quero
- e eu sempre quero -
mais eu perco.

Insuficiente


Te ver assim, real
te faz assim, igual

E te ter assim, tão real
me faz assim, mais mortal

Quando te desejo
o teu desejo de céu
e não esse chão habitual

Frio

Final

Segunda-feira


Quando não há anjos no céu,
ela veste nuvens
e derrama estrelas sorrindo.

Nos olhos austeros,
águas profundas e silenciosas.

Aporto.

Descanso, me abandono
à deriva
deixo-me levar
leve, vazio.

Atravesso então enormes pórticos,
paisagens flutuantes em um tempo inexato,
infinito para todas as direções.

Sonho.

Respiro o vento doce
que da janela aberta
atravessa manso e cauteloso
os cabelos ainda molhados.

...

Chega a manhã,
escorrendo preguiçosa pela parede
amarelada e esquecida.

Da cama desfeita e morna,
sinto que tardo.

Ao meu lado,
somente memórias
moldadas no pano.

Lento, a vejo de longe.

Nas mãos,
fumegando,
o café e o cigarro.

Sorriem os dois olhos austeros,
ametistas de brilho intermitente
atrás das duas neblinas.

Os enxergo dizer de dentro dos meus, descansados:

- É terça-feira. O que será de hoje?

O que será de nós?