terça-feira, 4 de março de 2008

O inferno são os outros. (J. P. Sartre.)

"Enquanto que eu. Tudo tão duvidoso. Atrevo. Pergunto o porquê da morte, do tempo, do amor. São os três quase-elementos existentes. Absolutamente impossível dizer concretamente o que são. Meu corpo não me entende e no entanto vive bem comigo. São duas e vinte. O que isso representará na minha existência? Lembrarei sempre desse não-acontecimento? Dessa vontade? Ela disse que não se apaixonaria pois tinha muito medo. Ouvira falar de dependência. Sim, nos tornamos dependentes depois de experimentarmos uma sensação e gostar. A partir de então tudo transcorre segundo seu quase-possível-desejo. Ocorre o inverso: você passa a não mais querer e cada vez mais quer. Entende? Não importa, é assim. Não podia se apaixonar. Sabia tão pouco de suas possibilidades e de seus limites. Não existe limite. O que existe são fatos que limitam. Estava ainda no ato de perguntar, não de completar. A paixão. Desejo de paixão impossível, a paixão. Impossível a paixão. Difícil o aproximar. Transtornante o de novo. E o coração a. Há um tempo do dentro das pessoas que a vontade de se dar é tanta que até se pensa em solidão. Aí é que está o sentido exato de se saber o porquë daquele momento. E continuo ruminando e permaneço. A complexidade é que cria a solidão. Acho que a idéia de começar funde-se em não querer e se tranforma em. O fato é que. A noite está. Os olhos. O corpo espera. A espera devora os órgãos e os faz falhos. E os torna opacos. A ansiedade lubrifica essas falhas e faz com que pouco rapidamente nos deterioremos. Como ácido entre neve de mãos. Os pensadores não me dizem mais. Sabe o que me satisfaz plenamente? Nada. Isso mesmo. Nem eu aqui agora roendo as unhas, sinal de intranquilidade comigo. Queri vencer o muro, perpetuar o instante para poder refazer se for preciso. O relógio acima de meus olhos está tombado feito cascata no corte da montanha e no entanto ainda dita as metas. As permanências. Aquele instante é cinza. Não há porquês. Há sim perguntas, apenas. A resposta é uma pergunta, então não existe resposta. Então o que acabei de escrever não deve ser levado em conta, pois não se diz nada concreto daquilo que existe: é fluente. Nota-se a presença. Enquanto que eu. Tudo tão duvidoso. Tento imaginar de onde brota a água que a montanha esconde em si. Não há o que entender às vezes. Solução: esquecer. Hoje o mundo sentiu algo até então desconhecido. Sentiu a ansiedade dos felizes. Aquela ansiedade triste dos que esperam que a ânsia seja satisfeita. O cruel desejo de que a onda desfaça o rochedo que imponente impede a água seguir seu rumo. O barulho é o avesso da alma. Silêncio. O sono me invade. Não existem respostas."

Um comentário:

Anônimo disse...

olá.boa noite.
você saberia me responder em qual livro do sartre está este trecho?
estou procurando pelas frases inexatas que tenho e não consigo encontrar, aparecem só blogs que transcreveram tais partes.
poderia me ajudar?obrigada maria carolina.carolborin@uol.com.br