domingo, 30 de março de 2008

Poucos minutos antes

era eu o oponente,
atento a cada vacilo,
ao instante inerte,
implorando pelo sopro santo
da resposta tardia.

A que determinaria o futuro,
em um passado
remoto.

Mordo o interior da boca,
remonto a ontem
e miro o braço,
fechando como um cadeado
o corpo sedento de tato.

Faíscam os olhos,
lamparinas em meio à tempestade.

Nas margens do silêncio,
ao som da chuva
que inunda a rua
e imuniza a despedida,
teorizo.

Como chegamos aqui
e por que resolvemos
voluntariamente
nos perder,
é fácil dizer.

A razão de nos encontramos

sempre no adeus
é o que sempre me faz desejar
esse eterno retorno.

sexta-feira, 28 de março de 2008

That don´t make it junk (Leonard Cohen)

I fought against the bottle,
But I had to do it drunk –
Took my diamond to the pawnshop –
But that don’t make it junk.

I know that I’m forgiven,
But I don’t know how I know
I don’t trust my inner feelings –
Inner feelings come and go.

How come you called me here tonight?
How come you bother
With my heart at all?
You raise me up in grace,
Then you put me in a place,
Where I must fall.

Too late to fix another drink –
The lights are going out –
I’ll listen to the darkness sing –
I know what that’s about.

I tried to love you my way,
But I couldn’t make it hold.
So I closed the Book of Longing
And I do what I am told.

How come you called me here tonight?
How come you bother with my heart at all?
You raise me up in grace,
Then you put me in a place,
Where I must fall.

I fought against the bottle,
But I had to do it drunk –
Took my diamond to the pawnshop –But that don’t make it junk.

Jewel Box (Jeff Buckley)

I know youre a woman
By the way you burn below
Ill tell you secrets so good
Youll never tell a soul

Come closer, that bonfire holds his life like stones
My years, my life unknown

Diamonds from the pavement
Where a broken glass had been
Just like these troubles
that Im leaving to the wind

Like sapphires in boxcars speeding towards the end
Like thieves, my bad luck grows

Jewel box of sadness
Bring to catch your tear
Crystalize illusion shine forgot Im here
Jewel box of sadness
Bring to catch your tear
Oh, you left some stars in my belly

Star crossed childs love
on the bands of wedding gold
Silver studs of promise
hide in the red crushed velvet folds

Inaction, intention, like emeralds I stole
My speech of custom gold
I think I ought to know

Véspera (Lobão)

Como tudo que dói
A tarde vai queimando o lixo e a beleza no seu véu
De fumaça e cinza
Espalhando o calor e o silêncio no abandono do dia
O ar quente treme no espelho do asfalto
Refletindo pedras e restos de cães atropelados
O céu de urubus em espiral
Estampa, desliza e prolonga a sensação do vazio

Aí eu me pergunto: hoje é véspera de que?
Aí eu me pergunto: hoje é véspera de que?

Talvez hoje seja, simplesmente, véspera de nada

Pensamentos viram fumaça na tarde
Condensando o alento de uma esperança feita de nuvens
Sonhos com uma trégua de orvalhos noturnos
Desaparecem no bafo quente do agouro de mais e mais e mais desertos
E a alma se entrega chorando
Numa última oração à primeira estrela que resta
Como se pudesse reinventar horizontes
Para manhãs abandonadas

Aí eu me pergunto: hoje é véspera de que?
Aí eu me pergunto: hoje é véspera de que?

Talvez hoje seja, simplesmente, véspera de nada.

terça-feira, 4 de março de 2008

No fundo da Noite

Bem no fundo da noite,
confundo conceitos,
me perco em palavras
e à tua mão me sujeito.

Bem no fundo da noite,
Entre veias expostas
e linhas mal acabadas,
faço apostas sem medo.

Bem no fundo escuro da noite
Um telefone emudece
e a fé enfraquece
ao notar-se infiel.

Bem no fundo escuro da noite
emoldurado em vermelho,
o riso de um louco
sibila no espelho.

Talvez a espera seja só falsa impressão
e que nessa noite escura

encontre uma manta a acalentar
minha própria destruição.

O inferno são os outros. (J. P. Sartre.)

"Enquanto que eu. Tudo tão duvidoso. Atrevo. Pergunto o porquê da morte, do tempo, do amor. São os três quase-elementos existentes. Absolutamente impossível dizer concretamente o que são. Meu corpo não me entende e no entanto vive bem comigo. São duas e vinte. O que isso representará na minha existência? Lembrarei sempre desse não-acontecimento? Dessa vontade? Ela disse que não se apaixonaria pois tinha muito medo. Ouvira falar de dependência. Sim, nos tornamos dependentes depois de experimentarmos uma sensação e gostar. A partir de então tudo transcorre segundo seu quase-possível-desejo. Ocorre o inverso: você passa a não mais querer e cada vez mais quer. Entende? Não importa, é assim. Não podia se apaixonar. Sabia tão pouco de suas possibilidades e de seus limites. Não existe limite. O que existe são fatos que limitam. Estava ainda no ato de perguntar, não de completar. A paixão. Desejo de paixão impossível, a paixão. Impossível a paixão. Difícil o aproximar. Transtornante o de novo. E o coração a. Há um tempo do dentro das pessoas que a vontade de se dar é tanta que até se pensa em solidão. Aí é que está o sentido exato de se saber o porquë daquele momento. E continuo ruminando e permaneço. A complexidade é que cria a solidão. Acho que a idéia de começar funde-se em não querer e se tranforma em. O fato é que. A noite está. Os olhos. O corpo espera. A espera devora os órgãos e os faz falhos. E os torna opacos. A ansiedade lubrifica essas falhas e faz com que pouco rapidamente nos deterioremos. Como ácido entre neve de mãos. Os pensadores não me dizem mais. Sabe o que me satisfaz plenamente? Nada. Isso mesmo. Nem eu aqui agora roendo as unhas, sinal de intranquilidade comigo. Queri vencer o muro, perpetuar o instante para poder refazer se for preciso. O relógio acima de meus olhos está tombado feito cascata no corte da montanha e no entanto ainda dita as metas. As permanências. Aquele instante é cinza. Não há porquês. Há sim perguntas, apenas. A resposta é uma pergunta, então não existe resposta. Então o que acabei de escrever não deve ser levado em conta, pois não se diz nada concreto daquilo que existe: é fluente. Nota-se a presença. Enquanto que eu. Tudo tão duvidoso. Tento imaginar de onde brota a água que a montanha esconde em si. Não há o que entender às vezes. Solução: esquecer. Hoje o mundo sentiu algo até então desconhecido. Sentiu a ansiedade dos felizes. Aquela ansiedade triste dos que esperam que a ânsia seja satisfeita. O cruel desejo de que a onda desfaça o rochedo que imponente impede a água seguir seu rumo. O barulho é o avesso da alma. Silêncio. O sono me invade. Não existem respostas."

Opressão


Quando o mundo sorri amarelo
e a fé se nota infiel.
Quando o tempo se faz inimigo,
e você, sozinho comigo, silencia.
Com as mãos frias do susto,
espia com o canto dos olhos
o estranho que persegue, à espreita.

Sombra errante,
indissociável da escuridão,
indissociável do instante,
sacramenta sua permanência

frágil.

Fraca existência.

sábado, 1 de março de 2008

Corações de aluguel (música)

Amores colecionáveis
Parece que o tempo parou por lá.

Será que existe algo inacabado?
Alguma peça fora do lugar...

E eu me sentindo tão ultrapassado,
pintando a saudade no papel.
Torço pra que brilhe de novo o sol,
na suíte de seu coração de aluguel.

Será que os planos (hoje estilhaços)
endureceram o seu olhar?

É certo que dói ter acreditado tanto,
pra sua carne ter de aceitar

a lembrança de um passado,
encerrado dentro de um colar.
Será que o ouro vai te ofuscar
na suíte que em meu coração pus pra alugar?

E eu também
já jurei o amor assim.

E eu também
já perdi parte de mim.

Será?

Desse caminho torto e apressado,
nunca soube bem o que esperar.

Por isso tanto coisa eu deixei de lado.
Será que é hora de voltar buscar?