sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Cais (Milton Nascimento)

Para quem quer se soltar invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de me lançar

Eu queria ser feliz

Invento o mar
Invento em mim o sonhador

Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Vida de marionete (música)

A sua vida sempre à frente
de forma simples e eficiente,
seu dia-a-dia flutua leve como o ar.

O futuro sempre em suas mãos
tão ansiosas por inovação,
até desembalar a mesma velha promessa de amar.

Então você se lembra da indiferença do quase afogado,
que tão cansado de remar pra todo lado
estanca e espera enquanto considera,
que talvez tenha errado em escolhar viver tão confinado,
atolado em obrigações vazias,
tantas pedras no sapato,
tanta política pra quê?

Mas será que dava mesmo pra escolher?

Melhor então é não pensar
e seguir a caravana, continuar
com o nariz no infinito e os pés bem fincados no chão.

Pois seu potencial é nossa inspiração,
dentro de um anúncio na televisão você repete compulsoriamente,
- Dessa vez tudo será diferente!!!

Quando então você se lembra da recompensa que, quando criança,
ao apontar para as estrelas com a lanterna sentia,
e mentia ao dizer que tinha medo do escuro,
você tava tão seguro, só não queria que ninguém lhe obrigasse,
que lhe dissessem o que fazer.
Tudo sempre foi tão claro pra você...

Então vem!
Nos resta celebrar
bailando qual marionetes.
Não há lugar melhor
pra se estar bem,
do que este lugar
entre passistas e confete.
Nas fantasias os segredos
que esse mundo não há de aceitar.

Vem!
Nos resta celebrar
bailando qual marionetes.
Não há lugar melhor
pra se estar bem,
do que este lugar
entre mentiras e vedetes.
Nas fantasias os desejos
que esse mundo não satisfaz.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Espera (música)

toda a vida que tive aqui
fez da espera um arsenal.
e as tolas preces que repeti,
sempre me convenceram que o final
seria doce
como a brisa do mar,
e o luar estendido no chão
iluminaria todo o mal
que há em mim

mas agora ouço a porta abrir
enquanto a manhã desperta no quintal
incerto se sonho vejo refletir
- tudo parecendo tão real -
os meus desejos moços
na sombra de um olhar
e as linhas marcadas da mão,
começando a apagar

Será você enfim?

Estava tão cansado de girar em falso
Estava tão cansado de medir os passos
Nesse tempo certo, nesse caminho limpo,
onde tudo é tão correto
onde nada faz sentido para mim

NEGATIVO

Atuo na dúvida,
existo no cinza,
atravesso paredes
como barco que singra
o mar em tempestade
à procura de um porto
palavras emaranhadas
à procura de um ponto

Sentenças inacabadas,
frases não ditas,
Pausas
sem tom, tempo ou ritmo

Só pulso

Mau hábito (música)


um alento ou uma dose que conforta e traz calor?
um pensamento ou só um nome que suporta a sua dor
de favores baixos, falsos tratos e promessas de recomeçar
tão viciantes quanto o instante em que deixou-se apunhalar

pela paixão

mas um momento, estou esgotado de em sua peça ter de figurar!
as falas prontas, os falsos cortes tão adequados para dissimular
será que existe erro, ou só é o preço de se querer amar demais?
Invento a sorte e aguardo o bote, para envenenado amaldiçoar

outra paixão

O que eu não entendo
é que quanto mais eu quero
- e eu sempre quero -
mais eu perco.

Insuficiente


Te ver assim, real
te faz assim, igual

E te ter assim, tão real
me faz assim, mais mortal

Quando te desejo
o teu desejo de céu
e não esse chão habitual

Frio

Final

Segunda-feira


Quando não há anjos no céu,
ela veste nuvens
e derrama estrelas sorrindo.

Nos olhos austeros,
águas profundas e silenciosas.

Aporto.

Descanso, me abandono
à deriva
deixo-me levar
leve, vazio.

Atravesso então enormes pórticos,
paisagens flutuantes em um tempo inexato,
infinito para todas as direções.

Sonho.

Respiro o vento doce
que da janela aberta
atravessa manso e cauteloso
os cabelos ainda molhados.

...

Chega a manhã,
escorrendo preguiçosa pela parede
amarelada e esquecida.

Da cama desfeita e morna,
sinto que tardo.

Ao meu lado,
somente memórias
moldadas no pano.

Lento, a vejo de longe.

Nas mãos,
fumegando,
o café e o cigarro.

Sorriem os dois olhos austeros,
ametistas de brilho intermitente
atrás das duas neblinas.

Os enxergo dizer de dentro dos meus, descansados:

- É terça-feira. O que será de hoje?

O que será de nós?