sábado, 19 de dezembro de 2009

A VIDA é FILME


A vida é filme
E eu sou o ator mais canastrão
Com minhas balas de hortelã
e minha pinta de galã na tempestade

A vida é filme
E o nosso amor cena de ação
serpenteia incandescente
alucinado e inconsequente pelas ruas

se deixa e me beija
se toca e retoca
a sua maquiagem
a sua encenação
antes que eu me esqueça

que a vida é filme
e sou um ator sem direção
feito um playboy dos anos 30
em vôo baixo na avenida dos desajustados

A vida é filme
Ou uma ilha de edição
a gente escolhe o que recolhe
e elimina o que incrimina, ou não é bem assim?

me beija se deixa
se toca e retoca
a sua identidade
de camaleão
antes que eu me esqueça.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Afogado

eu não sou o cara
quando cala a minha voz
o mundo é grande demais
e essa é uma canção de amor

acho bom ir avisando
que eu tô escutando
o que anda fazendo aí

- por aqui nada de novo
digo ao telefone
enquanto olho os retratos que tirei

é que eu minto um pouco quando sinto
que sinto alguma coisa ainda

acho bom ir avisando
que eu tô escutando
o que anda fazendo aí

- por aqui nada de novo
digo ao telefone
enquanto leio as palavras que te dei

é que sinto um pouco quando minto
que sinto alguma coisa ainda

era da informação
o dia todo na função
um dia toda essa pressão vai estourar

fase de repetição
vivendo em competição
correndo feito loucos pra nenhum lugar

e sem saber se eu amava
me afoguei na hora de matar a sede

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Jogação

Aceite.

Cavadores

(com Isabela)

#cena de filme surreal#

a madrugada em nossos olhos loucos

numa pia de álcool
descansam nossas mãos esfoladas

cavávamos, sem muita orientação,
procurando voltar para algum lugar que nomeamos

"nosso"

mas o coelho sumira há muito
se perdera em nosso labirinto subterrâneo

...

penso que talvez simplesmente não saibamos pertencer
talvez sejamos viajantes incondicionais

não importa quanta terra, pedra e ossos tenhamos de encontrar

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Interconectividade enclausuradora


Frequencia fantasma
os meus dias conectados na rede

contados

colaboratividade anônima
mapa interativo
à subjetividade

atalhos elétricos
energia compartilhada
no tempo da grana
de janelas fechadas

emito
repito
recorto e colo

procuro sentido
na aleatoriedade do tédio
como remédio

à vida enclausurada

terça-feira, 29 de setembro de 2009

sobre gostar

não é do meu gosto que gosta

gosta do meu gostar

gosto como se não fosse meu
com dedicação
vontade
gosto

gosto como se fosse único

e é

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Seremos

(para Camila)

quando praia

fomos praia segura
corrente que carrega para a costa
fundo firme de areia batida
acompanhando braçadas decididas
do nado em formação

como peixes
deslizando lado a lado
ritmadamente,
desafiando a distância traiçoeira
à vista da linha d´água


quando tempo

fomos tempo real
sol e lua no mesmo céu
fomos estática,
um pane elétrico
sintonizando relógios
repetindo números,
sugerindo ou sinalizando
viagens por outras dimensões

fomos nostalgia viva,
sorrisos emoldurados
por fogos dourados na virada do milênio

areia branca e fina escondendo brilhantes esquecidos
ao sol das águas da primavera
descansando a tela de um telefone celular


quando força

se tornou estrela do mar
navegou por mares Indianos
e esquadrinhou os limites do invisível
se emocionando com a vastidão do próprio espírito

foi um túnel de cores
que de tão vivas e humanas
só são vistas com os olhos fechados

foi o meu desejo de retorno


quando juntos

e é essa a minha promessa

seremos a celebração da vida

domingo, 23 de agosto de 2009

Números repetidos

inalcançável e inofensiva
uma estrela desconhecida em rota de colisão

uma teoria conspiratória
ou uma velha história carcomida pela maresia
a rodar de geração em geração

ebulindo paixões
ou suicídios

no vento salgado que tudo corrói

...

mas a conta não fecha

um alerta de que existe um lugar onde não se compreende
um outro lado
uma reação inesperada
uma ruidosa consonância de pontos de vista impossíveis
inesperados
e profundamente complementares

mas afinal...
eram mesmo somente números repetidos
ou seria Deus?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

como animais na cidade

se farejam bocas sujas trocam saliva e lascívia para espantar o despropósito dessa vida vida sem propósito de propósito perdidos nas ruas sujas da vida na cidade violência pútrida caminhos de rato farejando sinais de alerta
a cabeça apita chaleira o mesmo trajeto casa-trabalho-casa formiga operária cobaia de laboratório cestinha de supermercado cheia de pequenas porções de coisas básicas, todas elas com embalagens coloridas e cheias de textos, cientificamente comprovadas doses mentirosas de desejo, intestino preso, tecido adiposo, asfalto e o concreto dentro de uma mão, num gargalo, onde zunem e se amontoam, hemácias, carros deslizando em sangue, ruas anêmicas, quase apagadas, com suas luzes de freio e cheiro de glicerina queimada, glóbulos aglomerados de transbordam de veias abertas, epiderme da terra coberta por calçada.

domingo, 5 de julho de 2009

saudades

mensagens cifradas no tempo
que muda o seu ritmo e faz dançar o ás
no castelo de cartas de seu mundo encantado

memórias, ou elefantes voadores
presos em cada presa dos dentes-de-leão que assopra,
se apressam ao vento
em seu passeio nessa tarde ensolarada e fria de domingo

te invoco

quarto escuro
chão áspero, meios copos cheios
cama dura e desfeita

e escrevo as suas linhas
sem pensar ou esperar

ou talvez

que o telefone toque dentro de uma estação na madrugada
que a viagem seja tranquila
que o avião pouse
que não chova amanhã de manhã
que exista respeito

envelheço
me esvaindo em saudade
vaidade para validar a equação
que me trouxe de um labirinto de espelhos

acreditar em um olhar,
ou ser uma paródia

alguma outra imagem

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sons da guerra

Lá não há fantasmas, não há tempo pra eles.


De repente a carne se despedaça, se separa, cai inerte e pesada, sem vestígios de um dia ter carregado vida.


Como num embrulho de jornal.


O real é aquilo que explode no ouvido, o som que violenta o silêncio.


Aquilo que não tem alma.


Uma assustadora cacofonia soa insistentemente no coração dos que somente esperam, escrita na tensão invisível, inescrutável e incrustada no ar, executada por quimeras de aço e terror.


A respiração é presa como em um clímax. Gritos são encarcerados, soluços sufocados, enquanto se aguarda a morte que, ironicamente, chega silenciosa dentro da poeira, do fogo, ou de lugar nenhum, como no claque seco de um interruptor.