terça-feira, 3 de janeiro de 2017

30/10

talvez tenha sido um dia assim, como hoje,
nuvens elétricas e rápidas, filtrando a luz
mas de quando em quando, permitindo que o sol prateado esquente a pele,
acolha e protege, sem queimar, abastecendo a vida de calor
para se por bem devagar
enquanto ilumina o céu - um celeiro de raios
de tons púrpuras,
que anuncia a noite que chega sob o presságio de ventos frios do oeste
e vênus - a estrela d´alve, brilhando forte e soberana
na altura do chão, porém, é cálido o sentir
as estrelas se confundem com vagalumes
e cantam em ressonância aos murmúrios da terra no cio

talvez tenha sido um dia assim como hoje que, nasci
a memória e o medo que a vida tem
do vazio

do anti,
onde nada brota, onde nada há
atrás e através do caos, instaurado e inerente
uma escuridão surda

e me lembrei,
como a primeira folha brotando em um caule
da preciosidade que é estar aqui


eterno tem sido o caminho

domingo, 2 de outubro de 2016

01/10

foi como nascer
um acordar abrupto, com a luz de uma lanterna nos olhos
como se vc - me esperando comovido, alegre e cúmplice
[sempre ali, mas nem sempre notado]
procurasse olhar através de mim
diretamente à minha alma:

você está aqui?
está aqui comigo?
está aqui agora?

você não conhece o mundo em que pousa os pés,
mas ele te aceitou e te fez vivo
terra, fogo, água, ar, espaço

não sei bem como você é,
ou como você veio,
mas somos todos feitos à mesma maneira

partindo da fonte,
um raio de luz atravessou o cosmos,
adquirindo todas as energias daquele exato instante
quando pela primeira vez
inspiramos a vida
para dentro de nosso pequeno e frágil corpinho

e assim nos descobrimos aqui
vivos 
tabula rasa: em esquecimento, mas cheios de predisposições

a vida é unica, mas o universo é regido por leis que nós,
- enquanto fazemos nossa parte no movimento do universo tomando consciência de si mesmo,
temos procurado, aprendido e desaprendido desde que aqui chegamos

Há uma razão:
será aqui o lugar em que vamos aprender o que precisamos,
sem preparação,
de uma vez,
pra valer

dessa maneira, é fácil se perder em devaneios
identificados com o ego
e suas ilusões,
projeções procurando correspondência,
simulacros e cascas vazias

mal enxergando o caminho logo debaixo de nossos pés
criando obstáculos e obstruções ao respirar
ao fluir da vida
que acontece e vai sempre acontecer independente de nosso querer

a mente é uma ferramenta poderosa
mas não somos nossa mente

assim,
as histórias estão todas aí
vivenciadas e depois escritas pelos muitos que vieram antes
e estão sendo contadas por uma única razão:

só há uma verdade
e tudo leva ao mesmo lugar


trata-se de um equilíbrio tênue
de passos pequenos, micro dosagens,
um caminho próximo de alegria e dança
sem resistência
porém alerta e consonantes

respirar o mundo
respirar com o mundo
aceitar

e ascender

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Agora

Há de ser.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

máquina
aparato em perfeição avariada
alto e reparável
auto-destrutivo
ilógico e espírito
fumaça, espaço vazio 
ausência isenta
plenitude

etéreo e eterno

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Under attack

"america is under attack" ouviu de um susurro o presidente, preso em um sala de aula que bem poderia encubar os planos heroicos e sangrentos de um potencial jovem suicida, abandonado em desalentos imaginados, perdido na impossibilidade de um mundo que tudo oferece e tudo cobra. 

choque do espelho


o choque do espelho

faz dias que vejo essa mesma estrada, reta e vazia.

mão única

sem fim

tudo o que tenho
carrego junto ao meu corpo
e dentro coração

contava nos dedos de uma mão as horas que dormi
quando comecei a ver as primeiras luzes
tingindo o horizonte de vermelho

pensava naquela hora
que talvez
essa hora não fosse mais chegar

será que ainda me lembro de onde você mora?
não há mais ninguem aqui pra quem eu possa perguntar...
será que vai ficar feliz ao me ver?
o que será que já foi esquecido?

...

e em pensamentos, me perco na rua
e esqueço

...

quando volto
estou em outro lugar
sei que devia me lembrar daqui
sinto frio
na água, em pé, aos os meus pés
minha imagem
emoldurada dentro da luz da lua

me vendo assim
como num despertar
volto a mim

volto a lembrar quem eu sou
e que o que estou fazendo é loucura
e que já fui longe demais

quando justamente penso

- se fui longe demais
é porque talvez eu não queira mais voltar

quero recomeçar

talvez seja essa a minha vida
talvez seja essa a minha função

o recomeço

retiro do bolso
um papel amassado
anotado a lápis
e repito as palavras
que me aquecem

a casa é onde está o coração
e o seu caminho é o único que se pode seguir
sou seu discípulo
e a sua extrema benevolencia presto contas
sabendo que não existe vingança
acontece que ele se cansa com a burrice
dos que preferem não ouvi-lo
por ganância, poder, covardia

ou tudo junto

carinhosamente
coloco a caixa na água e deixo a correnteza a levar
volto para a velha estrada
carregando tudo o que tenho junto ao corpo
e dentro do coração

--

aconteceu na mesma noite quando sonhei que em minhas veias não havia sangue.

de olhos fechados, sentia a cutucada aguda e concentrada da agulha rasgando a carne e se afundando na dobra de meu braço, para então, logo em seguida, ouvir os muxoxos da enfermeira virando exclamações assustadas em voz alta. Sem o mesmo cuidado com que ela enfiara a agulha, a retirou bruscamente para sair andando a passos largos pelo corredor, deixando aberta a porta do quartinho em que estávamos. Olho para aquele furinho oco, e logo em seguida para o corredor branco e iluminado. Acordo logo que me levanto da cadeira.

Perdi o sono e não tentei voltar a dormir. Preferi ficar na sala, dedilhando o violão que preenchia a sala sem a barulheira que a cidade faz quando acordada. Liguei a Tv, tirei todo o seu volume e deixei a mudança frenética de imagens dar o tom da iluminação

Me assusto quando toca o interfone. Me assusto ainda mais quando ouço o bater na porta antes mesmo de atender a chamada. Demorei para lembrar que em função de sua infinita simpatia ninguém te fazia esperar, só não imaginava que fosse voltar. Muito menos assim. Tirei o interfone do gancho e antes de ouvir a voz do porteiro, fui dizendo - ok, ok obrigado, enquanto dava as duas voltas na fechadura para abrir a porta.

Não consegui decifrar a sua expressão. Fiquei com a sensação que não te conhecia mais.

Notei que chovia ao te abraçar. Você colocou o queixo sobre o meu ombro mas manteve as mãos junto ao próprio corpo. Carregava uma caixinha. Seu casaco de veludo estava frio e úmido, trazia pequenas gotas d´água nos ombros.